É fundamental para a nossa compreensão acerca da arte Teatral o entendimento da principal ferramenta de trabalho do ator, que é o seu próprio corpo. O bom músico afina diariamente seu instrumento musical e o manipula, buscando ainda mais a precisão na hora de executar sua arte, e assim o ator deve fazer com o seu corpo. “Afinar” o corpo não é simplesmente fazer exercício físico, mas explorá-lo em sua totalidade, compreendendo os seus limites, suas potencialidades... E a partir daí criar uma música corpórea.
A partir desta noção que surge a necessidade de treinamentos regulares (técnicos e energéticos) para a ampliação do nosso repertório de gestos e criação corporal, além da importância da consciência do corpo enquanto instrumento de criação artística do Teatro.
Assim, como o Ator pode ampliar o repertório de expressão corporal? Justamente conhecendo a si mesmo. Sócrates já dizia: “Conhece-te a ti mesmo”. Para a compreensão do trabalho de interpretação, é preciso primeiro saber quem é você. E o auto-conhecimento não é só psicológico, mas sim psicomotor. Este questionamento vem de encontro com o que penso: a necessidade de conhecer o próprio corpo, percebendo os limites e amplitudes, e a partir daí criar um corpo “Extra-Cotidiano”, cênico e com múltiplas possibilidades de criação. A partir daí , podemos aumentar nosso leque de possiblidades. O nosso corpo estará preparado para a “música” que o jogo cênico propor.
Segundo Artaud, o ator é o “atleta do coração”, porém este ator-atleta se difere do atleta do esporte, no sentido que, segundo Burnier, o ator precisa abrir sua “humanidade”, irradiando vida. Não é estar apenas presente, mas ser. Desta forma, é importante entender que o corpo não está dissociado da mente, mas que devemos compreender que a unidade psicossomática é essencial no trabalho de criação do ator, uma vez que precisamos ter consciência de qual é o nosso “corpo-sujeito” ou corpo-próprio” proposto Merleau-Ponty.
Artaud ainda ressalta que é importante um Teatro que fuja das amarras do discurso e da ditadura da palavra. Um Teatro onde as imagens são tão ou mais fortes do que as simples palavras de um texto. Um Teatro onde a sonoridade é mais importante do que o sentido da palavra escrita. É nesse Teatro que eu creio. Não por ideologia, mas por prática. Segundo Stendhal, a palavra escrita é a palavra morta. Ela renasce quando alguém fala, oraliza esta. E de fato é. Quem diz é que dá o sentido. E este sentido, no palco, é ampliado pelos gestos, expressão facial e entonação.
Concluindo, não basta apenas “fortalecer músculos” ou ganhar “preparo físico”, trabalhar o corpo para o Teatro é entendê-lo e abri-lo para novas experiências, limpando “vícios” e o transformando em uma superfície a ser lida. O teatro é uma linguagem que não explora apenas o verbo, mas que o que o universaliza é justamente o fato de que os gestos, as expressões também são signos a ser captados e compreendidos. No Teatro nada pode ser gratuito e tudo deve ter uma função, como um organismo vivo, em que os órgãos aparentemente independentes, trabalham para o funcionamento do todo.
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