É interessante pensarmos nesta discussão entre Teatro e Religião. Se pesquisarmos mais profundamente, veremos que o Teatro, tal como o conhecemos, deriva de um culto ao deus da mitologia grega Dioniso. Sendo assim, o Teatro tem em suas raízes, a função religiosa e por muito tempo esteve vinculada a tal manifestação.
Porém, ao passar do Tempo, o Teatro ganha uma dimensão muito grande, deixa de ser um instrumento de meios religiosos, e passa a ser por si só uma manifestação, assim como aconteceu com todas as formas de expressão artística. Tal ligação com a religião, faz inclusive que, parte do pensamento da população, tenha uma visão "romântica" da Arte e dos artistas, crendo que os mesmos tenham uma ligação direta com a(s) divindade(s).
Esta ligação, e o fato da Arte comover e comunicar de forma mais direta do que o simples discurso verbal, faz com que igrejas, empresas, políticos, entre outros, busquem na Arte, uma forma de comunicar com seu público de maneira mais ampla e profunda. E neste caso, o Teatro demonstra tal poder, por agrupar em si, diversas outras manifestações artísticas, como a Música, as Artes Visuais e a Literatura, além da dramatização.
Tive oportunidade de participar de apresentações Teatrais religiosas e de assistir. Penso que o Teatro deve ser diverso e variado, que aconteça em todos os espaços. O que não pode acontecer é a ditadura da linguagem. O Teatro pode e deve acontecer com temática religiosa, assim como também deve ser profano.
Existem excelentes trabalhos teatrais realizados por instituições religiosas, e eles também comunicam e emocionam pessoas, levantam discussões, assim como o Teatro desvinculado da religião o faz. A distinção muitas vezes está na profissionalização: o Teatro religioso não possui fins lucrativos diretos e os artistas envolvidos são pessoas da população que normalmente não vivem da Arte.
Bom, quando digo "Teatro Religioso", refiro-me primeiramente ao Teatro vinculado diretamente à instituições religiosas, e não Grupos independentes que praticam Teatro com temática religiosa. Entendo que a expressão "Teatro Religioso" é ampla e abrangente, mas também não temos nenhum termo ou estudo voltado diretamente para estas manifestações (pelo menos não tenho conhecimento de tais pesquisas).
A Arte tem a função de ser o canal de comunicação entre o que um artista deseja "falar" e o que o público quer "ouvir". O importante é que todos possam entender, de maneira crítica, que a Arte está acima de temas, filosofias e do próprio artista que a executa.
E quando cito o que o Teatro dentro da Igreja não tem intuito profissional, é porque o mesmo está vinculado á uma instituição que não possui fins lucrativos (pelo menos não deveria, pois é o que rege a lei e por isso não pagam impostos). Sendo assim, não há como ser profissional (ou seja cobrar do espectador, e portanto receber) estando ligado a tais instituições. O fato de ser profissional ou não, na minha opinião, de nada influi na qualidade dos trabalhos apresentados, não passando apenas de conceitos pré-determinados e legalmente judiciais.
Sendo assim, a Igreja é uma instituição sem fins lucrativos, porém o que vemos, seja na mídia, ou em casos notórios, diversas instituições religiosas possuem grandes patrimônios, e seus representantes estão cada vez mais abastados. Desta forma, muitas vezes os grupos de Teatro vinculados às igrejas fazem suas apresentações para que as instituições consigam mais seguidores, e que por consequência, consigam mais arrecadação. Só que, na maior parte, os atores dos grupos são membros da sociedade que desenvolvem outras profissões, e fazem o Teatro apenas como meio de louvor, e não recebem por isto, e o grupo é mantido pela arrecadação da Igreja. Assim sendo, o "lucro" direto não tem nenhum repasse feito aos "artistas".
O fato é que, em vários casos, o Teatro dentro da Igreja serve com artifício para alienação de seguidores. Porém não podemos esquecer que tais práticas não se aplicam à todas as instituições, pois há sim o Teatro Religioso com fins educativos e morais, a fim de divertir e conscientizar a o público. Mas ainda sim, proponho um questionamento: Não será ainda esta mesma forma uma alienação?
Oi João Bosco!
ResponderExcluirSou rosilene Cordeiro, atriz-performeira, professora de teatro aqui em Belém/PA. estou orientando um TCC na graduação em teatro sobre a temática teatro religioso e em busca de material na net, me deparei com seu artigo de opinião.
Bacana esse movimento de expressão pública de idéias que ajudam a gente a pensar junto sobre e com o movimento teatral.
Acredito que quanto mais colocarmos água nesse 'caldo' mais possibilidades temos de avançar e redescobrir nosso ofício quebrando alguns paradigmas fechados e restritos.
Bacana tua análise.
Vamos adiante...
sucesso com o blog! Evoé