quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A Cultura da Contra-Cultura

Tenho ouvido sempre, desde sempre, que neste árido sertão cerrado, as pessoas não querem arte para pensar, querem, de fato, apenas rir, se divertir. Rir de quê? Da miséria humana, da fome, das mazelas poucas da vida, da corrupção, da ignorância estúpida dos donos do poder? Entendi... Rir de tudo é desespero... E o meu desespero não é transformado em conformismo, mas em um ódio materializado em poesia cinética e cinestésica, é a minha arma apontada para o turbilhão em fúria que arrasta para seu centro sem nada. É minha náusea vomitada na cara daqueles que esperavam banquetear meu cérebro, meu coração e minha alma!

O que Goiás precisa é de contracultura, uma cultura adaptada à falta de boas maneiras, acostumada ao desrespeito contínuo com o próximo, das caminhonetes e dos bois não pode ser mantida. Quem não resiste rasteja!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Ator - O poeta da Ação 2

Criar, recriar, desconstruir, destruir, copiar, colar, chorar, dormir! Dormir e quem sabe sonhar. No sonho etéreo encontrar a dúvidas para minhas respostas mal fadadas ao desespero agoniante de não ser o que sou. Ser ou que sou, só. Só! Só não ser o que só sou eu.

O processo criativo, artístico é a busca da poesia em tudo. O ator é o poeta da ação. Assim como o poeta das palavras, deve ele debruçar sobre tais palavras não apenas como um "domador", mas também como um passageiro do comboio de sua sonoridade, de seus sentidos. Deve ele repousar seus pensamentos, sem buscar ansiosamente e de maneira abrupta enfileirá-las nos tijolos da ação. A parede poética pode mofar...

As palavras são os símbolos, e escritas elas são latentes, apenas potenciais. Tornam-se vivas na fala. O ator precisa trazer esta chave que libertará a palavra em sua boca, no seu corpo, no seu gesto, na sua ação. Tal palavra agora é pertencente a mais de dois donos: o poeta da palavra passa para o poeta da ação que passa para o poeta do pensamento: o espectador/ouvinte. Cada qual com seus significados, suas consciências criam suas poesias, e ligam-se à rede poética que conecta o universo. 

A poesia se faz necessária! O ator precisa compreender a poesia do universo, para transpô-la em cena e para a cena. O ator é o canal de potencialização e de emissão desta poesia, presente no gesto, na palavra, na luz, no figurino e no pensamento. O poeta da cena é a chave que conecta estas poesias. Os versos estão presentes em cada silêncio, respiração, ruídos e olhares, voa numa dança etérea e queima nas ações e nos gestos das palavras. Morre na esquina do pensamento esquecido, de um sorriso abandonado de um Teatro vazio!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Look at Yourself

Dentre os pressupostos no processo de criação do Work in Progress de Renato Cohen, há a premissa de que o ator/performer deva relatar seu processo, numa espécie de diário de bordo, chamado por ele de Look At Yourself (olhe para si mesmo, numa tradução simplista), com vistas a desenvolver uma espécie de  "mito pessoal" do próprio ator, e também de maneira objetiva, auxiliar no processo de criação da persona/personagem, através das memórias sobre cada momento dos treinamentos, laboratórios e ensaios. Mas, numa maneira mais profunda, funciona também como meio do despertar da consciência sobre a criação e assim auxiliando no preparo técnico do ator e também funcionando como uma válvula para o surgimento de idéias e insights.

Tal procedimento não necessita ser meramente descritivo, um simples diário, mas um mecanismo de criação, que pode ser trechos de estudos de outros autores, colagens de imagens e textos, mas preferencialmente que se utilize da criação pessoal, de uma maneira poética e sincera, de uma verdade interna de si, ou pelo menos de uma tentativa desta verdade, desta emissão deste grito interior, que percorre todo o ser e silencia-se no vazio do peito.

Assim, nestes mesmos diários podemos inserir notas sobre o processo, a partitura vocal e corporal,a discussão e a relação com os companheiros de montagem, afim de estabelecer um diálogo que ultrapasse as paredes da sala ensaio, pois o verdadeiro processo de criação dá-se fora, neste momento. A sala de ensaio é o momento de revelar tal criação, tal trabalho de investigação.