domingo, 28 de março de 2010


Por Sol Silveira



“Eles dançam...” responde o braço esquerdo ao direito.


Ahh esses Pés! Resmunga o braço direito.


Na dobra da rua passa a Maria Fumaça rasgando o tempo, ao som dela na sala de estar os pés dançam e riem. Brincam com as uvas espalhadas no chão.


Daqui de dentro eu ouço todos os sons e ruídos, diz o taco da madeira apressado.


O Tic-Tac do relógio central anuncia o grande espetáculo: A gangorra humana!


Pés e Braços prontos inspiram e expiram profundamente. Os braços sorriem mesmo com a ausência da música.


Inicia-se então a grande ópera dos pés! Contraídos e se libertando com o último fôlego de ar. Os braços querem voar mais alto, eles gritam e expulsam todo o som de sua existência.


Juntos pés e braços caminham em direção ao foco.


Grotowski se levanta, pega seu chapéu preto e sai em silêncio.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Que Corpo é este?


"Crie seu próprio método. Não seja dependente, um escravo. Faça somente algo que você possa construir. Mas observe a tradição da ruptura, eu imploro."
Stanisláviski


O que é um Corpo? As ciências físicas me responderiam: "Tudo aquilo que tem massa e ocupa um lugar no espaço." Mas, será que meu corpo é apenas isto? E qual lugar eu ocupo no espaço?
Conhecer o próprio corpo e suas possibilidades é essencial no Teatro. Pois a arte da encenação é justamente "ser" algum corpo ocupando o espaço da cena. Para isto o ator precisa entender que corpo ele tem, para depois saber como utilizá-lo.
Assim, o corpo do ator é como se fosse um "papel em branco" que tivesse que ser preenchido com vida, com força, e acima de tudo com consciência.


Perguntam-me sempre: "O que é a técnica do ator?" Eu também me questiono sempre sobre isto, e uma das últimas conclusões que tirei a respeito sobre este assunto (estudando, discutindo e fazendo Teatro) é que a Técnica nada mais é do que a Consciência.


Por exemplo: Os que podem andar fazem isto sem nenhum esforço psicológico, e na maioria das vezes, sem muito esforço físico. Quando alguém diz para uma outra pessoa para esta andar para que ele possa ver, esta pessoa que antes andava com "naturalidade" passa a ter dificuldades de realizar uma ação totalmente cotidiana. Por que isto acontece? Oras, porque a representação é uma ação "Extra-Cotidiana", da qual a maioria das pessoas não possui Consciência das próprias ações cotidianas, e por isto não saberão representa-las. Daí a importância da Consciência de si e das possibilidades do seu instrumento de vida: O Corpo.


Para adquirir esta Consciência, é necessário um exercício de auto-observação, e de observação da realidade a sua volta. Afinal de contas, o Teatro é a mimese da realidade, seja apenas como simples representação, seja para subverter o sentido do que é realidade, pois mesmo para subverter, precisamos conhecer o que é real. Assim, o Ator é o observador de si mesmo e da realidade. E a consciência técnica deste corpo que irá representar será adquirida através de treinamentos freqüentes para a descoberta deste "corpo em si", para transformá-lo em uma "massa de modelar", que poderá se transmutar em vários corpos.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Vida longa aos que morrem Jovem!



Gostaria de não envelhecer. Minhas idéias pueris, meu pensamento novo me empolga. Os velhos sempre caminham lentamente, ou param no tempo. Conceitos antigos não combinam mais nem com museus...


Não que eu ache que os que têm mais idade sejam velhos, há muitos idosos jovens, que nunca pararam no tempo, aliás, alguns sempre estão a frente do seu tempo. Um tempo, que aliás, faz tudo parecer que não se altera. Ao mesmo tempo, olho-me ao espelho e já não me reconheço. Aquela barba mais grossa não estava aqui ontem. O tempo não existe, mas resiste.


Eu desisto. Não quero o tempo e suas novidades de ontem. Não quero a revolução de ir contra a maré, só para nadar, cansar e depois morrer na Praia, num ponto em que não queria chegar. Uma interrogação: Para onde vamos?


E seguimos uma rota feito máquinas, num círculo vicioso que não nos permite achar uma saída, e aí ficamos nesse pensamento arcaico, me achando um gênio. E como dizia Pessoa, neste momento cem mil cérebros se concebem em sonhos gênios para si mesmos. E os “gênios para si mesmos” continuam semi-analfabetos que mal conseguem conceber três ou quatro linhas num pensamento lógico. Tudo é Cartesiano, e eu odeio a matemática e sua velha resposta do 2+2=4.


“Estou farto de semi-deuses, onde há gente no mundo?” Bradou Pessoa metamorfizado de Álvaro de Campos. Pessoa morreu jovem, e suas idéias nunca ficaram velhas. O seu discurso nunca saiu do tempo, diferentemente dos pseudo-artistas-intelectuais que mal conhecem o que julgam fazer, mas que teimam em julgar o que os outros fazem. Mas eles não fazem. Eles são críticos dos que fazem. Consomem o dinheiro daqueles que não possuem um pouco mais de discernimento e se dizem “os salvadores do pensamento intelectual e moral da sociedade". Hipócritas, travestidos de artistas. São mercenários que não possuem o mínimo de caráter, arrancam dinheiro de pobres e dizem fazer “trabalho social que ninguém fez, mostrando trabalho artístico para quem nunca pode ver.” E ainda querem fazer politicagens, mas criticam os políticos Bando de gente inútil e mesquinha.


E eu, o vilão da história, continuo a fazer vilezas, pedindo dinheiro emprestado e fugindo para fora da possibilidade do soco. Vil por ser grato e bobo. Ingênuo, eu que não sou gênio, para quem pedirei meus três desejos? Os Jovens que morrem a cada instante, fazem um mundo cheio de velhos, povoarem o pensamento com atrasos.




Por favor, não deixem a juventude, o ímpeto, a gana juvenil desaparecer. Tragam – na de volta. Rasguem a cortina do passado, o coração, o peito, a boca que não pode mais conter o grito guardado no timo, que sai por cada poro, buscando uma escapatória.




Chega de felicidade!!! O que eu quero mesmo é melancolia...

terça-feira, 9 de março de 2010

Uma grande Idéia!...


Hoje tive uma idéia genial...

...

...


Passou.


Tudo passa, as uvas passas, as ameixas passas, o ônibus não passa.


Outra idéia me surgiu: a possibilidade de não ter idéias. Mas creio que tudo isto, caros leitores ( eu mesmo, mais dois que eu forçar a ler), seja apenas falta do que fazer. Ou muito o que fazer. Ou preguiça de fazer. Fazer o quê?


Não faço nada. Nada Fácil. Nada fácil por que a piscina é rasa, e ele bóia. O pensamento bóia, tento dar descarga e ele não desce. Continua boiando na minha mente. Mente que isto pode ser genial, mas a ilusão não alcança muito, e continuo a achar que poderia ser melhor.


Melhor não ser. Melhor no ser, melhor non-sense. Tenso, sem senso, menos esmo mesmo.


Um suco de limão!!!! Ou pelo menos uma aspirina para matar esta dor de cabeça...

A morte da Educação


A educação morreu. O seu corpo será velado às 14h do dia 13 de novembro de 2002. O mundo, a partir de então, assume sua postura de total ignorância, pois o que deforma sua consciência, deixou de existir. Não mais será necessário sensibilidade, e nem tampouco gentileza. O que manda agora é a força bruta, o não-pensamento e a alienação declarada. Ouve-se agora apenas músicas de verdade, como Latino, Dejá'vu, Calypso e outras coisas do gênero.

Serão demolidos Teatros e centros culturais, que há anos não estão sendo utilizados, apenas ocupando espaço e servindo de abrigos para vagabundos, que se auto-denominam "artistas". Não há espaço neste novo mundo para seres pensantes. As escolas continuarão a existir, pois esta instituição provou, nos últimos tempos, que é a mais competente para a formação de um cidadão imbecil e hipócrita. Os professores adotarão, agora de maneira oficial, o novo uniforme, que deverá obedecer às seguintes regras: Nariz artificial, redodondo e de cor vermelha, peruca, roupa larga e colorida e gravata estampada.

Por se tornar antiquada e completamente inútil, a poesia será extinta, devendo manter coisas sublimes, como frases de caminhão, ou letras de músicas de Kelly Key, Mc Catraca, entre outros grandes nomes da nova literatura brasileira.

O Brasil evoluirá para um novo tempo, de muitas glórias e conquistas, com a ruína da arte e o fim da educação.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Comidas e Gaita



Quando o campo era verde,
e as borboletas voavam,
nós corríamos.
Eu queria uma borboleta...
voando no céu da minha boca.

A chuva traz de longe,
o frio que sempre está perto.
Espertos daqueles que estão em casa,
Espero aqueles que estão em casa,
Eu quero a sua asa.

O portão feio,
metade aberto, metade fechado,
Mostra o mundo que não é meu.
Nem seu,
Não Deu.

Tento novamente.
Vou pela porta da frente,
na porta da cozinha,
e...
É uma pena!
Uma Pera.
O resto.

As migalhas que sobram,
O lixo que eu viro,
Reviro,
E no fim acabo de fora.
Sempre por fora,
Nunca sento,
mais eu invento.

E amo!
Um amor dolorido
Que me faz chorar,
cantar,
uivar,
silenciar.

No silêncio,
apenas lágrimas.
Apenas cachorro!
Continuo lá fora,
Me deixa entrar?

Por que se ama tanto?
Não sei,
mas amo,
meus amos,
meus anos que ainda não chegaram,
A porta que não se abre.

Folhas secas.
Mato.
Eu Mato.
O rato.
Eu choro
no mato,
quando o rato morre.

Borboletas no meu jardim...
Vem para mim,
me faz voar,
me leva na sua asa
Até minha casa?

Borboletas...
Voa à toa,
Traz para mim,
Um casulo,
mesmo que sujo,
Eu uso.
Tudo.

Será que ninguém percebe?

Um dia depois do silêncio



Um dia e mais nada.
As horas mudas mudam
No Tic-tac do relógio
Vai e vem,
fica e volta
E por aí vai.

A alma se esvai...
O corpo cansado de viver
vive se perdendo.
No fim todos perdem!
Aos fracos,
um sorriso,
liso,
cínico,
cinza,
morto!

Hoje eu morro!
Subo o morro,
subo e morro,
Morte súbita.
Alí.

As horas permanecem sempre,
vem e vai,
mas a dor,
amor,
sol,
lua,
nua, crua, sua...

Assim segue o rumo...
A saga daquilo que não existe.
Tenho saudades dela,
Do caminho que não segui.

O amanhã dói,
cala o vento,
o céu continua azul,,
apesar de você não querer,
ele continua,
no sul.

Triste recomeço,
acordar e não levantar,
levantar e não acordar,
Apenas um sonho.
Até...
...
...!

Poesias: Guardador de Sol II


Sonho de uma noite de verão

O mais belo Sol de mim

A sol em mim,

Há Sol em mim

Meu Sol sem fim...

O dia não se opôs

Nem meu Sol se pôs

Mas foi...

Dormir no meu coração.

Sua voz, minha canção!

Meu amor guarda um Sol,

Um guarda - Sol

Minha Sol, Anita.

Teu olhar radiante brilha,

Ofusca a tristeza etérea

Ilumina minha alma,

Aquece meu dia...

Amor eterno, terno, certo

Doído, palpável, quente...

Amor de uma Lua nova por Um Sol!

O Corpo - Uma superfície a ser lida


É fundamental para a nossa compreensão acerca da arte Teatral o entendimento da principal ferramenta de trabalho do ator, que é o seu próprio corpo. O bom músico afina diariamente seu instrumento musical e o manipula, buscando ainda mais a precisão na hora de executar sua arte, e assim o ator deve fazer com o seu corpo. “Afinar” o corpo não é simplesmente fazer exercício físico, mas explorá-lo em sua totalidade, compreendendo os seus limites, suas potencialidades... E a partir daí criar uma música corpórea.


A partir desta noção que surge a necessidade de treinamentos regulares (técnicos e energéticos) para a ampliação do nosso repertório de gestos e criação corporal, além da importância da consciência do corpo enquanto instrumento de criação artística do Teatro.


Assim, como o Ator pode ampliar o repertório de expressão corporal? Justamente conhecendo a si mesmo. Sócrates já dizia: “Conhece-te a ti mesmo”. Para a compreensão do trabalho de interpretação, é preciso primeiro saber quem é você. E o auto-conhecimento não é só psicológico, mas sim psicomotor. Este questionamento vem de encontro com o que penso: a necessidade de conhecer o próprio corpo, percebendo os limites e amplitudes, e a partir daí criar um corpo “Extra-Cotidiano”, cênico e com múltiplas possibilidades de criação. A partir daí , podemos aumentar nosso leque de possiblidades. O nosso corpo estará preparado para a “música” que o jogo cênico propor.


Segundo Artaud, o ator é o “atleta do coração”, porém este ator-atleta se difere do atleta do esporte, no sentido que, segundo Burnier, o ator precisa abrir sua “humanidade”, irradiando vida. Não é estar apenas presente, mas ser. Desta forma, é importante entender que o corpo não está dissociado da mente, mas que devemos compreender que a unidade psicossomática é essencial no trabalho de criação do ator, uma vez que precisamos ter consciência de qual é o nosso “corpo-sujeito” ou corpo-próprio” proposto Merleau-Ponty.


Artaud ainda ressalta que é importante um Teatro que fuja das amarras do discurso e da ditadura da palavra. Um Teatro onde as imagens são tão ou mais fortes do que as simples palavras de um texto. Um Teatro onde a sonoridade é mais importante do que o sentido da palavra escrita. É nesse Teatro que eu creio. Não por ideologia, mas por prática. Segundo Stendhal, a palavra escrita é a palavra morta. Ela renasce quando alguém fala, oraliza esta. E de fato é. Quem diz é que dá o sentido. E este sentido, no palco, é ampliado pelos gestos, expressão facial e entonação.


Concluindo, não basta apenas “fortalecer músculos” ou ganhar “preparo físico”, trabalhar o corpo para o Teatro é entendê-lo e abri-lo para novas experiências, limpando “vícios” e o transformando em uma superfície a ser lida. O teatro é uma linguagem que não explora apenas o verbo, mas que o que o universaliza é justamente o fato de que os gestos, as expressões também são signos a ser captados e compreendidos. No Teatro nada pode ser gratuito e tudo deve ter uma função, como um organismo vivo, em que os órgãos aparentemente independentes, trabalham para o funcionamento do todo.

Teatro, Corpo e Voz – O ator na sua totalidade


Organicidade, organização, orgãos, orgânico. Tudo remete a uma natureza, organizada, que de forma sinérgica, trabalha, com órgãos que aparentemente independentes, funcionam para o equilíbrio de um "Todo". Desta forma, ao falar da organicidade Vocal do Teatro, acabamos por esbarrar na Holística, ou seja, o nosso organismo funcionando como um todo, sendo também um espaço “sagrado”. Assim, a organicidade no trabalho do ator, é a interação entre a alma (psiqué), como elemento do “sagrado”, e o corpo, que liga o sagrado ao físico. O corpo é o canal de comunicação, assim o corpo do ator, com todas as suas potencialidades (voz e gestos) servem como o meio de comunicação do Teatro com o espectador.

Desta maneira percebemos que no teatro, todos os elementos devem trabalhar harmoniosamente, buscando o equilíbrio da encenação. Este equilíbrio está associado diretamente ao comprometimento do ator, que deverá estar voltado completamente à sua criação, buscando equilibrar-se ao “Holos” da encenação, e assim alçando sua busca pela “própria humanidade” ou até mesmo de sua própria “mitificação” ( a busca pelo mito pessoal é bastante encontrada na pesquisa de Renato Cohen, onde ele propõe esta busca a partir de diários de bordo, chamados por ele de “look at yourself”).

Sendo assim, para o Teatro, não basta o ator “estar” simplesmente. É preciso que ele “seja”, de maneira íntegra, integral e inteiramente no Teatro. Buscando um corpo (Quando digo corpo, digo-o de maneira também integral, com todos os seus orgãos e funcionalidades. Assim, subentende-se que a voz também está presente) “Extra-Cotidiano”, consciente e ativo. Um corpo que esteja sempre numa constante relação dialética com a mente, lembrando que nem o corpo e nem a mente existem de maneira dissociada, pois o corpo é a ligação do nosso sagrado com a natureza, o mundo, nos ampliando as percepções sensoriais, e assim ampliando também a consciência do corpo.

O Manifesto do Teatro que É



Teatro Subterrâneo


Uma nova expressão que impressiona, pressiona nossas angústias, vontades. O ser não é mais uma simples existência. Donos do destino da vida irreal, surreal, absurda...


Criadores de nós mesmos. Eu me crio, recrio, retorço, exprimo, espremo até a última gota de suor mágico – criadora cair como um orvalho no jardim do meu palco. Desconstruo, destruo, componho e sou.


O mais importante é ser, não o estar. O universal sou eu, está em mim. Agora não está mais, sou volátil. Aversivo ser expressivo, um subversivo ativo, ainda na contramão do passado.


O processo é um progresso. O Teatro era, vai ser. O Teatro É. Celebramos a Vida e o Ser. Ainda não somos, existimos e insistimos para sermos. Não mudaremos a vida, o mundo, o Teatro...


O Teatro que É, mostra como o mundo funciona, como você quer que ele funcione? Você que deve ser. O que você É? O que É o que É? O caos da vida originando uma linguagem desordenadamente organizada. Terror que acalma a alma.


A nova forma sem formatos, a busca incessante de identidade. Estilo estilizado? Identidade etérea, heterogênea e contemporânea. O eu – você universal, plural e simples. Um escuro esclarecido, universo ainda não visitado. Somos alienígenas não alienados. O Teatro onde o proibido é proibir.


Uma nova proposta que É. Simplesmente É. O Teatro É. O environment e a persona se modificam, e miscigenados vão se modificando. O ar do nosso Teatro não é condicionado.


O Teatro avesso, averso ao estar da sua sala de “Star”. Esta É uma critica. Uma crítica desconstrutiva, Uma crítica que É. Eterna descoberta produzida pelo laboratório de pesquisa do Teatro que É. O ser. Reprodução assexuada da vida humana.


Eis o Teatro que É!

2010 - Os (des) caminhos da Cultura em Goiás



Não é novidade para nenhum ser mortal pensante que a cultura é (sempre foi e provavelmente será) a mais importante ferramenta de democratização de um estado, além de ser o ponto fundamental para a identidade de um povo. Daí quando chamamos alguém de “sem cultura”, não queremos apenas dizer que fulano é ignorante, mas que ele não possui um caráter. Caráter por sua vez é a personalidade do indivíduo, no nosso caso, o Sr. Fulano.


Desse modo, a cultura cumpre o importante papel na sociedade de identificar os valores (morais, éticos e estéticos), além de comportamentos, tradições (e otras cositas más) de um povo. A cultura é dinâmica. Como mecanismo adaptativo e cumulativo, a cultura sofre mudanças. Traços se perdem, outros se adicionam, em velocidades distintas nas diferentes sociedades. Assim, entendemos a cultura como a totalidade de padrões aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano. Segundo a definição pioneira de Edward Burnett Tylor, sobre a etnologia (ciência relativa especificamente do estudo da cultura) a cultura seria "o complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade". Portanto corresponde, neste último sentido, às formas de organização de um povo, seus costumes e tradições transmitidas de geração para geração que, a partir de uma vivência e tradição comum, se apresentam como a identidade desse povo. (Ufa!!)


Em Goiás, como em qualquer outro canto do planeta habitado por seres humanos, também existem culturas, porque existem homens. Um círculo vicioso. Mas a cultura é feita por homens e para os homens, e hoje em dia está bastante associada aos valores estéticos, mais especificamente ligada à Arte. Assim, compreendemos, no estado de Goiás, no ano de 2010, que boa parte do que concebemos como cultura associamos ao conceito de arte. Melhor, para evitarmos problemas maiores, falaremos da cultura artística de Goiás.


Deste modo, mudo então o título do artigo:


2010 – Os (des) caminhos da cultura artística de Goiás.


Então, Goiás é um estado da república federativa do Brasil, (culturalmente identificado pela maioria das pessoas do resto país como os “sertanejos”) cuja a capital é a cidade de Goiânia. Em Goiânia (comumente chamada pelos paulistas – habitantes do estado de São Paulo, também integrante da República Federativa do Brasil – de “Roça asfaltada”), concentram-se a maioria das manifestações artísticas do estado. Até o início do ano de 2006, Goiânia contava apenas com dois espaços públicos (os dois a nível estadual), e três espaços privados destinados à cultura. De 2006 para cá, surgiram vários centros culturais, inclusive espaços do munícipio, buscando saciar a demanda de produção artística da cidade. Hoje, existem, em funcionamento, um espaço (estadual), seis particulares e um do município. Em reforma, com previsão para funcionar a partir deste ano, temos o Teatro Goiânia, a Casa das Artes, o Teatro Inacabado e o Teatro da Liberdade.


O Grande entrave da história é que Goiânia é uma cidade relativamente nova, onde a cultura artística ainda é incipiente, necessitando urgentemente de profissionalização. Surgem e desaparecem todos os dias, artistas e agentes culturais, com a ilusão de que a arte enche a barriga e de que o mundo se resolverá assistindo à uma ópera de Verdi. No outro dia, acordam do terrível pesadelo, com um vazio interior (fome), e voltam a suas vidas “normais”.


Começo a acreditar que artista realmente não deve ser normal...


Os espaços existem, mas não existem as políticas de ocupação. Sendo assim, os prédios servem para enganar o povo, que também não vai aos espaços. Servem, para que esta massa, pouco “encefálica” acredite que exista cultura em Goiânia. Os prédios culturais, como o caso do imponente Centro Cultural Oscar Niemeyer, atualmente é utilizado para a vista dos motoristas que dirigem os veículos que rodam na BR-153, funcionando como uma espécie de peça decorativa (primeiro centro cultural no país com esta função. Tomara que a moda não pegue). Uma peça decorativa sem peças, nem shows, muito menos óperas de Verdi. Assim, se o Sr. Fulano (do início do artigo) quiser entrar lá algum dia, verá um prédio vazio, com alguns “grilos” (físicos e metafísicos) lá dentro.


Por isso, o artista (sujeito anormal na cultura goiana) fica mendigando espaço para trabalhar, para tentar garantir um direito de todo cidadão(direito presente na constituição brasileira) que assim diz: “Cabe à União proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência.” Além é claro, lembremos que o artista também precisa preencher seu vazio interior.
Nas cidades do interior, os “centros culturais” (digo entre aspas, por que são prédios improvisados onde alguém - que não foi o nosso Sr Fulano, mas provavelmente o deputado Ciclano - disse que lá era um lugar bom para a arte e a cultura), durante a maior parte do tempo servem para abrigo de aranhas, fantasmas e cabide de empregos. Em algumas cidades, durante o fim e o início do ano, também servem para a colação de grau. Colação de grau também é cultura!!!


Também é cultura no Brasil político fazer farra com dinheiro do povo, também é cultura no Brasil fazer espaços, mas não criar de condições deles serem ocupados. E aquilo que deveria servir para facilitar o acesso da população ao contato com a arte e a cultura, na verdade se transforma em “palanques” para os governantes.


Qual o caminho da cultura num ano de eleição? A cultura, com toda a importância que tem, será mais uma vez utilizada para decorar as campanhas? Os espaços ficarão novamente à mercê de pseudo-gestores culturais? Os grupos e artistas conseguirão vencer mais este ano, que promete não ter crise financeira?


Este é um capítulo que nós, amantes da arte e produtores de cultura (isso inclui a todos, pois cultura é toda ação humana que possui significado e sentido) teremos que escrever. E tentar mudar. Criar uma nova dinâmica, onde a cultura também seja democratizada. Lutemos pelo fim da ditadura da não-cultura!