A Arte do ator, ao contrário do que muitos leigos pensam, é antes de mais nada, a arte da observação, da escuta. Segundo Valère Novarina (2009, p.21) “a fala nos foi dada não para falar, mas para ouvir”. Partindo deste príncipio o ator exercita o ato da escuta, e através dela a fala. O ator deve-se atentar ao texto dramático, na busca de entende-lo, de perceber as imagens, o pensamento do autor, para no palco ser o “porta-voz” deste pensamento, desta ideia, deste desejo de falar ou exprimir o pensamento. Além disto, o ator não é apenas um “emissor das palavras do autor”, mas também um agente criativo que criará suas próprias imagens sobre o Texto.
Falar é um gesto, uma vibração do corpo, que parte de um desejo com um determinado objetivo. Assim, poderíamos definir a voz também como uma ação física, que tem o poder de tocar e sensibilizar o outro, seja ele o espectador ou até mesmo um parceiro de cena. A voz, além da criação de imagens, é em si, através das sonoridades uma ação por si só, que independe do significado da palavra, mas que aliado a mesma tem o poder de multiplicar os signos e de extrapolar o inteligível, mas tocar no sentimento, no sensível.
Para desenvolver esta ação, o ator deve experimentar as diversas possibilidades em seu corpo, no intuito de perceber e tornar orgânico este processo e ultrapassar a simples hermenêutica do texto. Para Fernando Aleixo (2007, p.39) pode-se trabalhar esta ação física vocal a partir de “três dimensões fundamentais sendo: sensível, dinâmica e poética”.
Assim, para o ator ser o canal de conexão, o agente que liga o texto ao público, é necessário que perceba as sonoridades que as palavras possuem, desde o entendimento dos sons das letras até a construção do sentido de uma frase, buscando afetar-se e afetar o outro. Inclusive entender que o dramaturgo ou autor muitas vezes escolhe determinadas palavras pela sonoridade que possuem, a fim de impactar não apenas pelo signo em si, mas também pela forma auditiva.
Vale ressaltar que a ação física vocal, também se manifesta através do silêncio, da respiração vazia de sons mas preenchida de emoções e ação. É a muito conhecida “pausa dramática”, que como a própria expressão diz, é o silêncio que comunica e afeta o outro, que permite ao ator e espectador ouvirem a respiração do outro, a perceberem o desejo de manifestar o pensamento e sentir emoção. Além disto o silêncio permite a cadência da fala, a variação rítmica. O silêncio em si não existe, o que existe é uma transição entre falas, preenchidas de ruídos de ar, pulsação interior e desejo.