Não é novidade para nenhum ser mortal pensante que a cultura é (sempre foi e provavelmente será) a mais importante ferramenta de democratização de um estado, além de ser o ponto fundamental para a identidade de um povo. Daí quando chamamos alguém de “sem cultura”, não queremos apenas dizer que fulano é ignorante, mas que ele não possui um caráter. Caráter por sua vez é a personalidade do indivíduo, no nosso caso, o Sr. Fulano.
Desse modo, a cultura cumpre o importante papel na sociedade de identificar os valores (morais, éticos e estéticos), além de comportamentos, tradições (e otras cositas más) de um povo. A cultura é dinâmica. Como mecanismo adaptativo e cumulativo, a cultura sofre mudanças. Traços se perdem, outros se adicionam, em velocidades distintas nas diferentes sociedades. Assim, entendemos a cultura como a totalidade de padrões aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano. Segundo a definição pioneira de
Edward Burnett Tylor, sobre a
etnologia (ciência relativa especificamente do estudo da cultura) a cultura seria "o complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade". Portanto corresponde, neste último sentido, às formas de organização de um povo, seus costumes e tradições transmitidas de geração para geração que, a partir de uma vivência e tradição comum, se apresentam como a identidade desse
povo. (Ufa!!)
Em Goiás, como em qualquer outro canto do planeta habitado por seres humanos, também existem culturas, porque existem homens. Um círculo vicioso. Mas a cultura é feita por homens e para os homens, e hoje em dia está bastante associada aos valores estéticos, mais especificamente ligada à Arte. Assim, compreendemos, no estado de Goiás, no ano de 2010, que boa parte do que concebemos como cultura associamos ao conceito de arte. Melhor, para evitarmos problemas maiores, falaremos da cultura artística de Goiás.
Deste modo, mudo então o título do artigo:
2010 – Os (des) caminhos da cultura artística de Goiás.
Então, Goiás é um estado da república federativa do Brasil, (culturalmente identificado pela maioria das pessoas do resto país como os “sertanejos”) cuja a capital é a cidade de Goiânia. Em Goiânia (comumente chamada pelos paulistas – habitantes do estado de São Paulo, também integrante da República Federativa do Brasil – de “Roça asfaltada”), concentram-se a maioria das manifestações artísticas do estado. Até o início do ano de 2006, Goiânia contava apenas com dois espaços públicos (os dois a nível estadual), e três espaços privados destinados à cultura. De 2006 para cá, surgiram vários centros culturais, inclusive espaços do munícipio, buscando saciar a demanda de produção artística da cidade. Hoje, existem, em funcionamento, um espaço (estadual), seis particulares e um do município. Em reforma, com previsão para funcionar a partir deste ano, temos o Teatro Goiânia, a Casa das Artes, o Teatro Inacabado e o Teatro da Liberdade.
O Grande entrave da história é que Goiânia é uma cidade relativamente nova, onde a cultura artística ainda é incipiente, necessitando urgentemente de profissionalização. Surgem e desaparecem todos os dias, artistas e agentes culturais, com a ilusão de que a arte enche a barriga e de que o mundo se resolverá assistindo à uma ópera de Verdi. No outro dia, acordam do terrível pesadelo, com um vazio interior (fome), e voltam a suas vidas “normais”.
Começo a acreditar que artista realmente não deve ser normal...
Os espaços existem, mas não existem as políticas de ocupação. Sendo assim, os prédios servem para enganar o povo, que também não vai aos espaços. Servem, para que esta massa, pouco “encefálica” acredite que exista cultura em Goiânia. Os prédios culturais, como o caso do imponente Centro Cultural Oscar Niemeyer, atualmente é utilizado para a vista dos motoristas que dirigem os veículos que rodam na BR-153, funcionando como uma espécie de peça decorativa (primeiro centro cultural no país com esta função. Tomara que a moda não pegue). Uma peça decorativa sem peças, nem shows, muito menos óperas de Verdi. Assim, se o Sr. Fulano (do início do artigo) quiser entrar lá algum dia, verá um prédio vazio, com alguns “grilos” (físicos e metafísicos) lá dentro.
Por isso, o artista (sujeito anormal na cultura goiana) fica mendigando espaço para trabalhar, para tentar garantir um direito de todo cidadão(direito presente na constituição brasileira) que assim diz: “Cabe à União proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência.” Além é claro, lembremos que o artista também precisa preencher seu vazio interior.
Nas cidades do interior, os “centros culturais” (digo entre aspas, por que são prédios improvisados onde alguém - que não foi o nosso Sr Fulano, mas provavelmente o deputado Ciclano - disse que lá era um lugar bom para a arte e a cultura), durante a maior parte do tempo servem para abrigo de aranhas, fantasmas e cabide de empregos. Em algumas cidades, durante o fim e o início do ano, também servem para a colação de grau. Colação de grau também é cultura!!!
Também é cultura no Brasil político fazer farra com dinheiro do povo, também é cultura no Brasil fazer espaços, mas não criar de condições deles serem ocupados. E aquilo que deveria servir para facilitar o acesso da população ao contato com a arte e a cultura, na verdade se transforma em “palanques” para os governantes.
Qual o caminho da cultura num ano de eleição? A cultura, com toda a importância que tem, será mais uma vez utilizada para decorar as campanhas? Os espaços ficarão novamente à mercê de pseudo-gestores culturais? Os grupos e artistas conseguirão vencer mais este ano, que promete não ter crise financeira?
Este é um capítulo que nós, amantes da arte e produtores de cultura (isso inclui a todos, pois cultura é toda ação humana que possui significado e sentido) teremos que escrever. E tentar mudar. Criar uma nova dinâmica, onde a cultura também seja democratizada. Lutemos pelo fim da ditadura da não-cultura!